Durante o período de isolamento social imposto pelo combate à COVID-19, observou-se um crescente aumento no consumo de álcool, o que vem preocupando as autoridades e órgãos de combate à dependência química e do álcool. Há algumas semanas, a Organização Mundial de Saúde manifestou preocupação com o tema publicando: “Álcool não protege contra a COVID-19 e o seu acesso deve ser restrito”.

Este fator deve-se, principalmente, ao aumento da ansiedade, incerteza com o futuro, desemprego e problemas financeiros. Alguns fatores como, dificuldade no acesso ao tratamento da dependência química também contribuem para o crescente aumento no consumo de álcool e outras drogas ilícitas, uma vez que os CAPS suspenderam temporariamente o atendimento.

Além disso, as pessoas levam para dentro de casa os hábitos pré-confinamento, como o de frequentar festas e bares. Sem contar as inúmeras lives de músicas que são um atrativo a mais para a ingestão de bebidas, como pode ser observado nas fotos das redes sociais.

Os desdobramentos deste atual cenário podem ser imediatos ou ter reflexos futuros. Atualmente, com o aumento do consumo de álcool, há também o aumento da violência doméstica e o feminicídio.

“Posteriormente, algumas pessoas poderão manter esse hábito pós-quarentema e, a longo prazo, isso pode vir a se transformar em uma dependência, que tem um componente biopsicossocial, uma vez que muitas pessoas têm uma predisposição genética para o alcoolismo”, afirma o Dr. Leandro Billo, cirurgião do Aparelho Digestivo e de Transplante do Hospital São Vicente Curitiba.

Deve-se lembrar também que a exposição por longo período ao consumo de álcool pode desencadear outras doenças como a hepatopatia aguda ou crônica (cirrose hepática). “A cirrose, por si só, gera uma redução considerável na expectativa de vida e na sua qualidade. Não obstante, pacientes portadores de cirrose hepática necessitarão de transplante de fígado e, com o número crescente de pacientes em fila de espera e com a oferta de doadores não suprindo a demanda, muitos poderiam falecer à espera por um órgão”, complementa o especialista.