Médicos do Hospital São Vicente Curitiba alertam para a importância da prevenção e de rastreio mais precoce por meio de exames de sangue

Neste mês acontece a campanha Julho Amarelo, em alusão ao Dia Mundial das Hepatites Virais, que é nesta quarta-feira, 28 de julho. A data busca conscientizar sobre a prevenção, diagnóstico e tratamento dessas doenças, especialmente, as dos tipos B e C – as mais comuns. Segundo o Instituto Brasileiro de Estudos do Fígado (IBRAFIG), as hepatites B e C respondem por cerca de 74% dos casos notificados de hepatites virais no Brasil no período de 2000 a 2018.

“Essas ainda são as hepatites que evoluem para quadros crônicos e consequências mais graves aos pacientes, por isso têm maior importância epidemiológica”, justifica a gastroenterologista do Hospital São Vicente Curitiba, Dra. Fabiana Lora.

Contudo, principalmente após 2015, quando surgiram medicamentos mais eficazes, 90% das hepatites C podem ser curadas antes de se tornarem crônicas se diagnosticadas mais precocemente. Por isso, uma campanha mundial da Organização Mundial da Saúde, com apoio de institutos e sociedades médicas brasileiras, defende a necessidade do rastreio da Hepatite C em todas as pessoas com fatores de risco (usuários de drogas injetáveis, pessoas que tenham múltiplos parceiros sexuais e pessoas que fizeram transfusão de sangue antes de 1993) ou com mais de 40 anos.

O teste de sangue, que é simples e rápido, está disponível gratuitamente em todas as unidades de saúde. “A Hepatite B, como já temos vacina, não tem um protocolo de rastreio, até porque já faz parte do calendário vacinal e com isso estamos percebendo mais estabilidade e queda de casos”, observa Dr. Fabiana Lora.

Essa testagem é fundamental pois a maioria das hepatites C só são diagnosticadas em estágios mais avançados, quando já evoluíram para um câncer de fígado ou cirrose e acaba se tornando necessário um transplante. “Hoje, no Brasil, em torno de 35% dos transplantes de fígado são devido às hepatites virais. Já a hepatite B, que tem tratamento há mais tempo e vacina, os transplantes giram em torno de 10%”, avalia Dr. Nertan Tefilli, cirurgião de fígado e pâncreas e coordenador do Serviço de Transplante Hepático do Hospital São Vicente Curitiba – a instituição tem o selo de certificação de transplante hepático e renal da Central Estadual de Transplantes do Paraná e é referência nacional em transplantes de fígados.

Vida normal após o transplante

Em 2017, quando se mudou para Curitiba, o motorista de aplicativo Rogério Requena já estava em tratamento da Hepatite C, que adquiriu durante uma transfusão de sangue em São Paulo. Ao ser encaminhado pelo SUS para o Hospital São Vicente, descobriu que já estava em um estágio crônico e seria necessário um transplante.

“O meu fígado já estava comprometido e os médicos falaram que precisaria fazer um transplante. Fiquei bem chocado. Enquanto falavam comigo sobre o transplante, um filme da minha vida passou pela cabeça. Mas lembro até hoje das palavras dos médicos, que falaram que eu era novo, tinha chances de reagir muito bem”, recorda Rogério.

O transplante de fígado tem uma taxa de rejeição baixa, explica o Dr Nertan Tefilli. “Se o paciente mantiver bons hábitos de vida, o tratamento e acompanhamento médico, pode ter uma vida praticamente normal”, afirma. Após a cirurgia, o tempo de recuperação leva cerca de um ano. “Nos primeiros três meses o paciente precisa estar muito próximo da equipe médica, tomar mais medicamentos para evitar rejeições. Passando esse tempo, o organismo já vai se acostumando ao novo fígado”, esclarece o cirurgião.

Depois de pouco mais de um ano da cirurgia, realizada em 2018, Rogério conta que realmente voltou a ter uma vida praticamente normal, respeitando os cuidados com uma alimentação mais saudável, com proibição de consumo de bebidas alcoólicas e acompanhamento médico periódico. “O pós-operatório é sofrido, mas se precisasse eu faria de novo. Hoje, eu levo minha vida com mais calma e tenho uma vontade de viver muito grande”, declara.

Entenda mais sobre as hepatites virais

As hepatites virais são inflamações do tecido hepático causadas pelos vírus A, B, C, D e E. O gastroenterologista do Hospital São Vicente Curitiba, Dr. Alysson Bernini, explica que somente os quatro primeiros tipos estão presentes no Brasil, sendo a D praticamente restrita à Região Norte.

Transmitida por água e alimentos contaminados, a hepatite A costuma ser adquirida na infância. “Na maioria das vezes não tem maiores complicações. Uma vez em contato com o vírus, o paciente desenvolve imunidade para o resto da vida”, observa. Hoje, esse tipo de hepatite já consta no calendário de vacinação infantil.

Já a hepatite B pode ser adquirida por sangue contaminado ou através de ato sexual desprotegido – sendo essa mais rara quando comparada ao contato com sangue contaminado. “Vale ressaltar uma outra forma de transmissão, a vertical, que consiste na transmissão do vírus de mãe para filho durante o nascimento via parto vaginal”, lembra Dr. Alysson Bernini. Com os avanços dos exames pré-natais, é cada vez menos comum esse tipo de transmissão, além da vacina ter sido implementada no calendário infantil do SUS no início da década de 90 – pessoas que nasceram antes desse período também podem procurar uma unidade de saúde para se vacinar, caso nunca tenham tido a doença.

A hepatite C também é transmitida por sangue contaminado e sexualmente. Normalmente, o vírus é adquirido durante ou após a adolescência e detectado a partir de 40 anos. “Essas hepatites costuma levar de 15 a 25 anos para se tornarem crônicas, sendo que evoluem de maneira silenciosa”, aponta Dr. Nertan Tefilli.

Por isso, é importante a prevenção com a realização do teste de hepatite C, aplicação das vacinas das hepatites A e B, manter hábitos de higiene (no caso da hepatite A), não compartilhar agulhas ou objetos pessoais perfurocortantes, atentar para esterilizações em manicures, pedicures e equipamentos de tatuagens e usar camisinha em relações sexuais.